Calvin Harris - Sweet Nothing ft. Florence Welch
“- Vocês, Hempstock, não são
gente – falei.
- Somos, sim.
Fiz que não com a cabeça.
- Aposto que essa não é sua
aparência de verdade – falei. – Não exatamente.
Lettie deu de ombros.
- Ninguém realmente se parece por
fora com o que é de fato por dentro. Nem você. Nem eu. As pessoas são muito
mais complicadas que isso. É assim com todo mundo.
- Você é um monstro? Como a
Ursula Monkton?
Lettie jogou uma pedra no lago.
- A meu ver, não – respondeu. –
Existem monstros de todos os formatos e tamanhos. Alguns deles são coisas de
que as pessoas têm medo. Alguns são coisas que se parecem com outras das quais
as pessoas costumavam ter medo muito tempo atrás. Algumas vezes os monstros são
coisas das quais as pessoas deveriam ter medo, mas não têm.
- As pessoas deveriam ter medo de
Ursula Monkton – falei.
- Talvez sim, talvez não. Do que
você acha que a Ursula Monkton tem medo?
- Sei lá. Por que você pensa que
ela tem medo de alguma coisa? Ela é adulta, não é? Os adultos e os monstros não
tem medo de nada.
- Ah, os monstros têm medo –
disse Lettie. – É por isso que são monstros. E os adultos... – Ela parou de
falar, coçou o nariz sardento com um dedo. - Vou dizer uma coisa importante
para você. Os adultos também não se parecem com adultos por dentro. Por fora,
são grandes e desatenciosos e sempre sabem o que estão fazendo. Por dentro,
eles se parecem com o que sempre foram. Com o que eram quando tinham a sua
idade. A verdade é que não existem adultos. Nenhum, no mundo inteirinho.”
-x-
“- Ela será a mesma?
A velha
senhora deu uma gargalhada, como se eu tivesse dito a coisa mais engraçada do
universo.
- Nada
nunca é igual – respondeu ela. – Seja um segundo mais tarde ou cem anos depois.
Tudo está sempre se agitando e se revolvendo. E as pessoas mudam tanto quanto
os oceanos.”
-x-
“- É
verdade? – perguntei, e me senti um tolo.
De todas
as perguntas que eu poderia ter feito, aquela foi a que acabei fazendo.
A velha
sra. Hempstock deu de ombros.
- O que
você lembrou? Provavelmente. Mais ou menos. Pessoas diferentes se lembram das
coisas de jeitos diferentes, e você nunca vai ver duas pessoas se lembrando de
uma coisa da mesma forma, estivessem elas juntas ou não. Se elas estiverem uma
ao lado da outra ou do outro lado do mundo, isso não faz a menor diferença.”
-x-
“Não
tenho saudade da infância, mas sinto falta da forma como eu encontrava prazer
em coisas pequenas, mesmo quando coisas maiores desmoronavam. Eu não podia
controlar o mundo no qual vivia, não podia fugir de coisas nem de pessoas nem
de momentos que me faziam mal, mas tinha prazer nas coisas que me deixavam
feliz.”
-x-
"As memórias de infância as
vezes são encobertas e osburecidas zelo que vem depois como brinquedos antigos
esquecidos no fundo do armário abarrotado de um adulto, mas nunca se perdem por
completo."
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“O trabalho vai bem, obrigado, eu diria, sempre sem saber
como falar do que faço. Se conseguisse falar, não precisaria fazer. Eu faço
arte, às vezes arte verdadeira, e às vezes isso preenche os espaços vazios da
minha existência. Alguns. Nem todos.”
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“Adultos seguem caminhos. Crianças exploram. Os adultos
ficam satisfeitos por seguir o mesmo trajeto, centenas de vezes, ou milhares;
talvez nunca lhes ocorra pisar fora desses caminhos, rastejar por baixo dos
rododendros, encontrar os vãos entre as cercas.”
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"Eu vi o mundo no qual andara desde o meu nascimento e
compreendi sua fragilidade, entendi que a realidade que eu conhecia era uma
fina camada de glacê num grande bolo de aniversário escuro revolvendo-se com
larvas, pesadelos e fome."
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“Deito-me na cama e me perco em histórias. Gosto disso. Os
livros são mais seguros do que as outras pessoas mesmo.”
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"Livros são mais confiáveis que pessoas, de qualquer
forma."
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“Fui para longe na minha cabeça, em um livro. Era para onde
eu ia sempre que a vida real ficava muito difícil ou inflexível.”
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“Você não é aprovado ou reprovado em ser uma pessoa,
querido.”
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“(...)- Esse é o problema com as coisas vivas. Não duram
muito. Gatinhos num dia, gatos velhos no outro. E depois ficam só as
lembranças. E as lembranças desvanecem e se confundem, viram borrões...”
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“Como você pode ser feliz nesse mundo? Você tem um buraco no
seu coração. Um caminho dentro de você para terras além do mundo que você
conhece. Esses caminhos vão te chamar, no decorrer da sua vida. Nunca haverá um
segundo no qual você conseguirá esquecê-los, no qual você não estará procurando
por algo que não pode ter, algo que você não consegue sequer imaginar direito,
e a falta disto irá arruinar o seu sono e o seu dia e a sua vida, até que você
feche os olhos pela última vez, até que os seus entes queridos lhe deem veneno
e o vendam para anatomia, e ainda assim você morrerá com um buraco dentro de
você, e você irá lamentar-se e praguejar por uma vida mal vivida.”
Livro: Oceano no Fim do Caminho
Autor: Neil Gaiman